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Tenho tempo até demais

Diego C. Sampaio
2 min readApr 4, 2022

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“Estou sem tempo” é uma desculpa maravilhosa. Irrefutável na loucura da produção. Não conheço ninguém que não esteja sem tempo, fazendo mil coisas, correndo de lá pra cá. E, por ser irrefutável, é a melhor das mentiras.

Eu nunca estou sem tempo, tenho tempo até demais, só não quero gastar com você. Entenda “você” no espectro amplo. Um “você” pessoa, mas, também, as coisas das pessoas, as coisas só coisas, o status quo.

Se eu não tivesse tempo, não gastaria meu dinheiro em Netflix. Se eu realmente não tivesse tempo, talvez precisasse de menos tarjas vermelhas. Ou, não, ainda precisaria, mas estaria tão atulhado de obrigações que não conseguiria tomar.

O meu tempo, assim como o de Einstein, é relativo. Suficiente para assistir cinco horas de séries num dia, mas curto demais pra fazer o que eu não gosto. Sem tempo para trabalho extra, para visitar gente chata, para estudar para concurso.

Mas, nem só de desgostos vive uma desculpa. Me falta tempo pra coisas que amo, pra escrever, pra me exercitar, explorar o mundo. Nesse caso, dou essa desculpa a mim mesmo. Passo a ser o “você” e, como todos os outros “você”, acredito na justificativa que recebo sem questionar.

O tempo é um bom escudo para covardes. Nós defende da vida.

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Diego C. Sampaio

Contista e cronista de qualidade discutível (aviso de pseudopoemas na pista), escrevo na intenção de ganhar biscoito de amigos, inimigos e desconhecidos